OVERLAND NA NAMÍBIA COM 4X4 ALUGADO

Organizar uma viagem sem a ajuda de um intermediário para um destino muito explorado não é difícil. Você já viu o que quer fazer em um programa de viagem, seus amigos tem várias dicas e a internet tem uma enxurrada de depoimentos de gente que já foi, do que é legal, do que é roubada. Quando se fala de algo um pouco menos óbvio, a coisa muda de figura.

Escrito por: Alesandra Angolini (Instagram)

Imagens: Marcel Araujo (Instagram)

Quando decidimos ir pra Namíbia, pouco sabíamos. Havia apenas uma grande fascinação com fotos de cenários fantásticos onde queríamos estar. Sem pensar muito, compramos as passagens aéreas chegando e saindo da capital Windhoek. Começamos a pesquisa para estruturar a logística mas as informações eram difusas. Nessa pesquisa, vimos alguns gringos dizendo que era um país impossível de se visitar sem um veículo 4×4 devido ás condições das estradas e, a mesmo tempo, um conterrâneo dizendo que quem já andou um pouco pelo Brasil, não se assustaria… Por lá,  tínhamos visto que existem estradas de asfalto, de cascalho e de terra, sendo que dentre essas chamadas de “terra”, algumas são de areia.  Será que conseguiríamos chegar no destino conforme o planejado? Será que as 6 horas e 43 minutos indicadas na rota traçada pelo Google virariam 15 horas de estrada? Some a todas as dúvidas, a insegurança de dirigir na mão inglesa.

Estávamos muito perto de optar por pacotes com todo transporte e hospedagem inclusos. Apesar de esse tipo de passeio nunca ter sido uma escolha que combine com o nosso perfil de viajante, tínhamos o contato de uma agência local operada por uma brasileira e isso parecia muito cômodo.

Foi quando vimos uma foto no Instagram de um carro com uma barraca no teto e a legenda contava que aquilo era um aluguel. Mudou tudo. Não sei se todo mundo sabe que, sim, é possível alugar um carro que vem com tudo que é preciso para acampar, mas pra gente era novidade e mudava tudo mesmo, porque além de ser a hospedagem para qualquer que fosse o roteiro, era um veículo 4×4, assim, a questão da suposta má navegabilidade das estradas estava resolvida. Era isso – queríamos um carro e uma barraca.

Agora o desafio era achar uma empresa que pudesse nos fornecer esse aluguel. Até onde pesquisamos, os sites convencionais de aluguel de carro não abrangem esse tipo de aluguel mais específico. Tentamos também um agente de viagens aqui no Brasil que nos propôs o aluguel de um veículo 4×4 e que na sequência tentaria arranjar o aluguel do equipamento de camping mas não estávamos certos de que esse era o caminho (e não era).

O contato daquela brasileira que tínhamos para comprar aquele pacote disse que poderia providenciar um roteiro personalizado e as reservas em campings ou lodges, mas que não alugava veículos, nem poderia indicar nenhuma empresa que o fizesse.

Sem nenhum tipo de indicação, lançamos no Google “namíbia camping car rental” e disparamos pedidos de orçamento para todas as empresas encontradas. 24 horas depois e nada além de algumas respostas automáticas. Achamos num fórum, um outro caminho, um email que parece se tratar de uma cooperativa, pois reúne várias agências, você faz seu pedido de orçamento, e ele é encaminhado pra todas elas – caran@iway.na. A ansiedade ameaçou voltar. Mas, no prazo de 2 a 5 dias, recebemos resposta de quase todas as empresas – algumas já não tinham mais carro nenhum, outras já não tinham mais veículos com as características que queríamos.  Esse primeiro contato já nos mostrou qual seria o tempo das coisas: para cada pergunta, um tempo de resposta de 2 dias. Úteis.

Como as opções disponíveis não eram tantas, logo fechamos com a empresa Savanna Car Hire, uma das empresas que respondeu através daquele e-mail. Fizemos um depósito de parte do pagamento através de um link e o saldo seria quitado na retirada do veículo. As outras empresas apresentaram condições parecidas para efetuar a reserva.

Em relação a empresa, ficamos muito satisfeitos com o atendimento. Nosso vôo para Windhoek saía de Joanesburgo e atrasou mais de 4 horas. Com isso, chegaríamos no aeroporto uma hora e meia depois do horário limite para a retirada, depois do fechamento da loja, inclusive, que fica no centro da cidade. Mandamos uma mensagem para o nosso contato na agência, e ela ficou nos esperando junto com o rapaz que explicou pacientemente tudo sobre o carro e o equipamento de camping, mesmo fora do horário. Isso fez com que pudéssemos manter o roteiro original.

Na nossa pesquisa, o aluguel desse tipo saía a partir de 1.700 NAD a diária (aproximadamente R$450,00) para um veículo cabine simples com uma barraca para 2 pessoas. O valor aumenta conforme aumentam os diferenciais: cabine dupla, 2 barracas no teto, barraca embutida, um segundo tanque de combustível etc. Como um aluguel de carro normal, mas com itens específicos dessa categoria. Viajamos em setembro, alta temporada na Namibia.

Nosso tempo foi escasso. Por isso fizemos as reservas nos campings com antecedência. Não é difícil localizar online muitas opções disponíveis, mas, por lá, vimos outras que não tínhamos encontrado na internet. Acho que é possível fazer essa viagem sem as reservas, mas planejando, conseguimos acampar nos melhores lugares.

A Namibia Wildlife Resorts (NWR) é uma rede de hospedagem que gerencia diversos campings e lodges na Namibia, inclusive, localizada dentro dos parques nacionais, como no caso do Etosha e do Sossusvlei, duas das mais procuradas atrações por lá. A estrutura é ótima, limpa e organizada. Outro camping que ficou na nossa memória foi na formação rochosa Spitzkoppe. Os campsites são super isolados, a sensação é de estar sozinho, no pé das montanhas. Experiência equivalente ao camping selvagem, mas com chuveiro na saída.

Em 8 dias, rodamos 2.500 km. Mas acreditem: 8 dias é pouco para Namíbia. Talvez 15 dias seja pouco para Namíbia. Só o Etosha merece pelo menos 3 dias só pra ele. O Etosha foi nossa primeira parada no país. Logo na entrada, vimos 5 zebras tranquilas perto da estrada, passamos lentamente por elas, admirando, mas um quilometro a frente, viramos um para o outro “espera, será que deveríamos ter parado naquelas zebras? Será que veremos mais animais tão perto?”, seguimos com o coração apertado. Esse foi também nosso primeiro safári na vida. E então, conforme o sol ia caindo, a vida animal ia surgindo, não sei de onde. O Etosha é plano e a vegetação é basicamente capim. Mas nessa mesma tarde vimos uma quantidade de zebras incontável, e tantas outras manadas de diversas espécies de antílopes. E girafas, elefantes, rinocerontes.

Além do Etosha que é um parque nacional onde se pode observar a vida selvagem, visitamos o Otjikandero Himba Orphan Village (um projeto onde se pode conhecer um pouco da cultura himba, um dos povos nativos), o Spitzkoppe, a região de Walvis Bay (com suas dunas que encontram o mar, flamingos e piscinas coloridas de sal) e o Sossusvlei (no sul da Namíbia, com suas dunas vermelhas, céu azul e a floresta petrificada Deadvlei).

Na prática, foi apenas confirmar o que dizem por aí: a Namibia é o camper’s paradise. E se podemos acrescentar mais um diferencial, em plena alta temporada, a ocupação daquele lugarzinho onde todos querem estar, num nível extremamente tolerável. Nas estradas, horas e horas, e cruzávamos 2 ou 3 carros.

A Namíbia é um deserto que se transforma. Um deserto que vai aos poucos trocando de texturas, de relevo, de temperatura e de cores. E você não se cansa de olhar. “Montes e mais montes de nada” assim traduzida a descrição de um senhor que conhecemos durante a viagem. Mas pode acreditar, isso não foi uma crítica. Foi um elogio poético, difícil de encontrar melhor para descrever aquele lugar.